sexta-feira, 11 de abril de 2008

ESSA PALAVRA

Paira entre nós
essa palavra mágica e sagrada
que às vezes vem de sol incendiada
por uma ventania
devastadora e nua.
E outras vezes apenas se insinua
como uma leve brisa
que, soprando, desliza
envolvente e macia

Paira entre nós
essa palavra doce como mel
que, sem aviso, nos acende a pele
e nos aquece a alma
numa carícia quente
Mas num instante, caprichosamente
se faz cruel saudade
que nenhuma vontade
suaviza ou acalma

Paira entre nós
essa palavra de outra dimensão
que nos inunda os olhos de ilusão
como uma maré cheia
assim tão cegamente
que nos deixa à deriva, de repente
desafiando a sorte
nos faz trocar o norte
por cantos de sereia

Paira entre nós
essa palavra misteriosa e louca
que vai num beijo de uma a outra boca
rebelde, independente
com o poder de um Deus
E volta na tortura de um adeus
gravada a ferro e fogo
Um infindável jogo
que apenas se pressente

Paira entre nós
essa palavra assustadora e bela
que em gestos e sorrisos se revela
num olhar se anuncia
mas sempre tão subtil
que mal lhe adivinhamos o perfil
já se tornou em nós
o pensamento, a voz
o caos e a harmonia

Paira entre nós
essa palavra, eterna feiticeira
que nos encanta e fere a vida inteira
Que nos domina, enfim
assim impunemente
porque nela se oculta, estranhamente
tudo o que mais queremos
tudo o que mais tememos
tudo o que não tem fim

5 comentários:

sum disse...

Pois que não tenho palavras.
Aqui elas nem pairam para eu tentar descrever quanto gostei.

Li, gostei, senti. Reli, tornei a gostar e vou voltar para tornar a ler o que tanto me fez sonhar.
É estranho como gosto dos seus poemas do princípio ao fim. Já tive e a oportunidade de dizer mas nunca é demais voltar a dizer.
Um beijinho e obrigada

Anónimo disse...

Olá Ana


Lindo Ana, mas são todos, mas como sempre o leitor num dia, sem bem porquê, prefere um, para uns dias depois ser já outro que mais lhe diz.

Hoje é este o meu preferido.

Obrigado por tanta sensibilidade.

ana v. disse...

Eu é que agradeço, Sum e Marta. É muito bom saber que as nossas palavras tocam os outros de alguma forma.
Um beijinho

Anónimo disse...

Os seus poemas são tão redondos, tão naturais e tão profundos, que os vemos quando os lemos. A sua poesia derrete-me os sentidos. Obrigado.

ana v. disse...

Romeu, já que escolheu esse nome respondo-lhe com uma das mais belas frases de Shakespeare, precisamente na boca de Julieta:

"What's in a name? That, which we call a rose, by any other name would smell as sweet."

Obrigada também, pelas suas palavras.