domingo, 21 de setembro de 2008

Praia das Maçãs

A névoa estendeu o manto
rasgam-se os olhos de espanto
tudo é bruma
tudo é espuma e maresia

Hoje não veio a bonança
a areia ensaia uma dança
de torpor
ao sabor da ventania

Praia das Maçãs
onde ladrilho a saudade
em nebulosas manhãs

A nortada não acalma
um remoinho na alma
pé-de-vento
ao relento da alvorada

A falésia tinge de ouro
o imenso sorvedouro
do passado
no brado da madrugada

Praia das Maçãs
onde é agreste a verdade
de mil ventos tecelã

Senhora das tempestades
leva contigo as saudades
de outros dias
litanias de cetim

Enleia em algas molhadas
as lembranças condenadas
e os presságios
dos naufrágios que há em mim

Praia das Maçãs
onde só o mar invade
os incertos amanhãs



(Ennio Morricone - Canone Inverso)